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25/11/2019

Violência contra a mulher: uma epidemia global

 HJK e MOV realizaram seminários com o objetivo de integrar, qualificar e propor ações para a rede de atenção à mulher em situação de violência.

Hoje, 25 de novembro de 2019, o Dia Internacional de Combate à Violência Contra a Mulher completa 20 anos de existência, em um ano marcado pelo aumento nos números de feminicídio, agressões e outros tipos de violência contra pessoas do sexo feminino. A data foi criada na Assembleia Geral da Organização das Nações Unidas (ONU) de 1999, e ficou conhecida mundialmente por conta do ato de violência cometido contra as irmãs Mirabal: Pátria, Minerva, e Maria Teresa - ativistas políticas na República Dominicana, que foram assassinadas a mando do ditador Rafael Trujillo em 25 de novembro de 1960. O objetivo deste dia é denunciar a violência contra as mulheres em todo o mundo, além de incitar reflexões, exigir políticas e sugerir soluções para a questão.

O Mapa da Violência de 2015 revela que – de acordo com registros do Sistema de Informações de Mortalidade (SIM), da Secretaria de Vigilância em Saúde (SVS) do Ministério da Saúde (MS) – entre 1980 e 2013, morreu um total de 106.093 mulheres no Brasil, vítimas de homicídio. O número de vítimas passou de 1.353 mulheres, em 1980, para 4.762 em 2013 - um aumento de 252%. Ainda de acordo com a pesquisa, a mulher negra é a principal vítima de violência, com o maior número de homicídios. Em 2003, 1.864 foram assassinadas. Em 2013, esse número saltou para 2.875.

O estudo também apresenta outro indicador diferencial dos homicídios de mulheres: o local onde ocorre a agressão. Para se ter uma ideia, quase a metade dos homicídios masculinos acontece na rua, com pouco peso do domicílio. Já nos femininos, essa proporção é bem menor: mesmo considerando que 31,2% acontecem na rua, o domicílio da vítima é, também, um local relevante (27,1%), indicando a alta domesticidade dos homicídios de mulheres. Vale destacar ainda que, para as mulheres com idade entre 18 e 59 anos, o agressor principal é o parceiro ou ex-parceiro, concentrando a metade do todos os casos registrados.

Somente de janeiro a setembro de 2019, foram registrados mais de 108 mil casos de violência doméstica e familiar contra a mulher em Minas Gerais. Em BH, a taxa de feminicídio subiu 200% no primeiro semestre do ano, em comparação a 2018, de acordo com registros da Polícia Civil do Estado.

As várias faces da violência

Além dos homicídios, as mulheres estão sujeitas a outros tipos de violência em seu cotidiano: assédio, estupro, agressão física, além de atos de violência psicológica, moral e econômica. Dados do Fórum Brasileiro de Segurança Pública revelam que, em média, a cada 11 minutos uma mulher é estuprada no Brasil. Já o Fórum Econômico Mundial analisou a desigualdade de salários em 142 países e o Brasil ficou na posição 124. A organização afirma que a expectativa é que apenas em 2095 haja igualdade salarial entre homens e mulheres no país. De acordo com a ONU, 70% de todas as mulheres do planeta já sofreram ou sofrerão algum tipo de violência em, pelo menos, um momento de suas vidas — independente de nacionalidade, cultura, religião ou condição social.

Mulheres agredidas tendem ainda a ser menos produtivas. O Banco Mundial estima que, em média, um em cada cinco dias de absenteísmo do trabalho feminino decorre de violência. Apresentam ainda dificuldade de se relacionar e podem desenvolver baixa autoestima, estresse, depressão e até enfermidades crônicas.

Atendimento na Rede Fhemig

Considerada um problema estrutural e de saúde pública, a violência contra a mulher gerou em profissionais que atuam no Hospital Júlia Kubitschek (HJK) e na Maternidade Odete Valadares (MOV), unidades da Fhemig referências em saúde da mulher e atendimento humanizado, a preocupação em oferecer um atendimento especializado para esse público.

Os dois hospitais compõem uma rede de apoio em Belo Horizonte para o atendimento a pessoas em situação de violência sexual. As unidades acolhem a vítima, a qualquer hora do dia, em seu serviço de urgência e oferecem a profilaxia pós-exposição para Infecções Sexualmente Transmissíveis (IST’s) e gravidez, além de colher exames laboratoriais e vestígios de material genético para encaminhamento ao Instituto de Medicina Legal (IML) - caso a vítima deseje produzir laudo para futura denúncia criminal. Posteriormente, a paciente é encaminhada para o atendimento ambulatorial, onde é acompanhada durante pelo menos seis meses por médico, enfermeiro, psicólogo e assistente social. Além da MOV e do HJK, Hospital das Clínicas e Odilon Behrens integram a rede.

Para discutirem propostas de enfrentamento para a questão, foram organizados seminários nos dois hospitais, com a presença de especialistas de diferentes áreas. Durante os eventos foram debatidos temas como a rede de apoio à mulher em situação de violência, aborto legal, formação profissional, aspectos legais da violência contra a mulher, Lei Maria da Penha, além de ações de prevenção da violência e promoção da paz.

Naividas - HJK

O Núcleo de Atendimento Integral às Mulheres Vítimas de Agressão Sexual (Naividas), é o atendimento existente no HJK a vítimas de violência sexual desde 2006, onde elas são acolhidas, prioritariamente, não necessitando de Boletim de Ocorrência ou qualquer outro tipo de encaminhamento.

Após o atendimento de urgência, a paciente é acompanhada pela equipe multidisciplinar do Naividas e, durante o período de seis meses, recebe suporte psicossocial, acompanhamento clínico e laboratorial, com realização mensal de exames. O Naividas recebe homens e mulheres, de todas as idades. Mais de 80% das vítimas atendidas no serviço são mulheres, e mais de 60% são crianças e adolescentes.

De acordo com a ginecologista do serviço, Kênia Zimmerer, o atendimento multidisciplinar é fundamental, já que o caso pode ser avaliado pela perspectiva de cada profissional. “Além disso, o fato de o atendimento ser simultâneo colabora para que a vítima não precise relatar a história diversas vezes, aumentando o seu sofrimento. Lembrando que essas decisões sempre levam em consideração a vontade e opinião da paciente, que é informada de cada etapa do atendimento”, explica Kênia. Ainda segundo a psicóloga e referência do serviço, Andréa Silva Guimarães, também é importante o envolvimento não só dos profissionais de saúde, mas de todos os funcionários da unidade. “Precisamos nos unir, pois, às vezes, a vítima não vai relatar sua história para o ginecologista, mas vai falar com o faxineiro, ou com quem estiver próximo a ela e disposto a ouvir”, sugere.

Ambulatório de Violência Sexual - MOV

O ambulatório de Violência Sexual (VS) da MOV existe há mais de duas décadas e atende mulheres e adolescentes a partir de 12 anos. Por mês, realiza entre 15 e 20 primeiras consultas, além dos atendimentos de retorno. A médica ginecologista do serviço, Mariana Meinberg, ressalta que a atuação do ambulatório é essencial para retirar a vítima de um possível ciclo de vulnerabilidade. “Essa mulher corre risco de entrar em relacionamentos abusivos, de se machucar, ingerir drogas, ter depressão e até mesmo de sofrer uma nova violência - seja ela física ou sexual. O nosso trabalho é, principalmente, tentar prevenir isso, fortalecendo a nossa paciente”, afirma.

A enfermeira Mônica Azevedo explica que, em caso de estupro e até mesmo de suspeita, é essencial que se procure o atendimento em uma unidade de saúde o mais rápido possível. “As primeiras 72 horas são fundamentais e decisivas. Quanto mais rápido a vítima procurar o serviço de saúde, mais eficientes as profilaxias e, portanto, menores as chances de IST’s e de gravidez. Além disso, é importante frisar que até mesmo em caso de relação sexual consentida sem proteção, é possível ter acesso, em qualquer unidade de saúde de urgência, à profilaxia pós-exposição” , esclarece.

O atendimento contínuo da equipe multi e interdisciplinar de VS se faz necessário para que a mulher supere a violência sofrida. “Nossa equipe analisa e discute, em grupo, todos os casos e decide em conjunto o melhor cuidado a ser oferecido à paciente. O acompanhamento de seis meses, que pode se estender por até um ano, é determinante na recuperação dessa mulher. O estupro é como uma ferida. Sempre que eu olhar para a cicatriz, vou lembrar do ocorrido, mas ela passa a doer menos. Nosso papel é esse: fechar a ferida e não deixar que ela doa para o resto da vida”, conclui Mônica. 

 Feridas Invisíveis

Embora não existam dados comprobatórios, estima-se que sejam notificados menos de 10% dos casos de violência sexual contra a mulher. Além disso, segundo a psicóloga Meire Cassini, que participou do seminário do HJK, as notificações, em sua maioria, acontecem quando a mulher já está sendo agredida fisicamente ou quando é assassinada. Todo o processo que antecede a isso, como as humilhações, ofensas, e ameaças, não são relatadas, tornando-se fatos invisíveis para a sociedade. “Quanto mais precoce, intensa ou prolongada a situação de violência pela qual a mulher passa, maiores e mais permanentes serão os danos”. Entre as consequências estão tristeza, insegurança, baixa autoestima, frustração, ansiedade e, principalmente, culpa. “É importante tornarmos essas feridas visíveis para podermos ajudar essas mulheres, já que, atualmente, o que predomina é uma naturalização da violência. É por isso que estamos aqui: para tentar mudar isso”.

 

Por Anni Sieglitz e Fernanda Moreira Pinto

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