23/06/2021

Hospital João XXIII tem serviço especializado no alívio de dores intensas

Pacientes de grandes traumas são assistidos por especialistas em medicina da dor

Dor é uma experiência sensorial ou emocional desagradável, que gera grande incômodo em quem a sente. A maioria das pessoas já teve ou, provavelmente, ainda terá algum tipo de experiência relacionada aos incômodos gerados por algum tipo de dor. Quando se trata de pacientes internados após terem sofrido um trauma, essas dores podem chegar a um nível tão elevado de desconforto que, muitas vezes, provocam alterações fisiológicas e psicológicas negativas, prejudicando o tratamento e, consequentemente, a recuperação. É aí que entra o Tratamento da Dor, que, de acordo com estudos clínicos, auxilia na redução da morbimortalidade e do tempo de internação dos pacientes.

No Hospital João XXIII (HJXXIII), da Fundação Hospitalar do Estado de Minas Gerais (Fhemig), o serviço surgiu como forma de auxiliar no tratamento das dores de difícil controle. Realizado pelos anestesiologistas da unidade, especializados na medicina da dor, os atendimentos ocorrem pela interconsulta, ou seja, são solicitados por outros médicos do hospital que atendem aos pacientes e têm dificuldade em tratar suas dores, identificando a necessidade da intervenção dos especialistas. Podem ser pacientes da cirurgia geral, ortopedia, cirurgia plástica, pediatria, entre outros.

“A dor intensa e de difícil controle é uma questão desafiadora para muitas equipes, que muitas vezes não são treinadas para reconhecer as alterações individuais específicas de cada caso. Por isso, nesse momento é importante a presença dos clínicos de dor no hospital”, afirma a anestesiologista do HJXXIII Fernanda Fantini, uma das especialistas no Tratamento da Dor na unidade, ao lado dos também anestesiologistas Érica Oliveira e Gustavo Lages.

De acordo com a Sociedade Brasileira para o Estudo da Dor, o atendimento ao paciente com dor é de fundamental importância, já que ela interfere nos outros sinais vitais. “A dor é considerada o quinto sinal vital, juntamente com a frequência cardíaca, a frequência respiratória, a pressão arterial e a temperatura. O seu controle melhora a atividade cardiorrespiratória, evita o tromboembolismo, diminui a ansiedade e a depressão, além de trazer conforto para o paciente”, explica Fernanda Fantini.

Segundo a médica, o uso crônico de opióides – medicações usadas no tratamento de dores intensas, com alto poder de vício – faz com que o paciente desenvolva tolerância ao fármaco, interferindo no controle adequado da dor. “Por isso, nosso objetivo é auxiliar no tratamento dos pacientes com uma abordagem multimodal da dor, que é uma técnica que aborda a dor de forma global, associando tratamento medicamentoso a técnicas invasivas usadas na prática anestésica e contribuindo para a diminuição da dose de opióides” explica.

Ainda de acordo com ela, o objetivo da abordagem multimodal é tratar a dor e seus efeitos com uma combinação de medicamentos e procedimentos invasivos, minimizando os efeitos colaterais de cada terapia em uso único e isolado. “Se for realizada de maneira efetiva, a analgesia auxilia na recuperação e aumenta a adesão do paciente ao tratamento, levando a melhores resultados no pós-operatório. Além disso, ajuda a reduzir o tempo de internação e o excesso de opióides, e aumenta a satisfação dos pacientes durante o tempo em que estão no hospital.”, afirma a anestesiologista.

Mais qualidade no tempo de internação

Sandra Maria Messias da Conceição está internada no Hospital João XXIII desde 21 de maio, depois de sofrer um acidente com trauma no membro superior direito (fratura do úmero e luxação do ombro), além de um trauma grave nos membros inferiores, que acabou resultando na amputação das suas pernas.

“Sentia muita dor no braço e no ombro direito. De zero a 10, posso dizer que o nível de dor era 10. Então, a equipe do Tratamento da Dor, aqui do Hospital João XXIII, veio e fez alguns testes. Em seguida, foi colocado um cateter no local, que resolveu meu problema. Foi muito bom. Não sinto mais nenhuma dor, graças a Deus”, conta a paciente, que esteve no Centro de Terapia Intensiva (CTI) da unidade durante 26 dias e agora continua sua recuperação na enfermaria do hospital, após ter tido o ombro operado.

A anestesiologista Fernanda Fantini explica que, a partir do momento em que sua equipe é chamada, eles analisam o caso e as possibilidades de tratamento para o alívio mais rápido da dor do paciente, se possível, imediato. “Essas medidas envolvem ajuste da medicação que ele já está tomando, aumento de doses, mudança de intervalos entre elas, e, até mesmo, medicações de resgate que o próprio paciente pode solicitar durante o tratamento”.

 A médica explica ainda que, ao fazer esses ajustes, as medicações costumam demorar um tempo para fazer efeito e, pelo fato de as dores agudas do trauma serem muito fortes, podem ser necessárias algumas intervenções especiais, como foi o caso da Sandra.  “O implante do cateter dela foi um tratamento específico, já que a dor que ela mais queixava no dia do atendimento era no ombro que estava luxado e ainda não tinha condições de ser operada no local. Ou seja, o problema cirúrgico não poderia ser resolvido por questões clínicas e ela ficaria com aquela dor causando transtorno”, conta.

De acordo com a anestesiologista, o cateter, no caso da paciente, irriga o plexo braquial com anestésico local, em doses analgésicas, resultando em uma redução muito grande da dor. “A medicação fica continuamente ali banhando aquele nervo para dar o alívio que a paciente precisa para conseguir tolerar banho, mudança de posição e os outros procedimentos realizados no hospital. Além de melhorar a mobilidade, ainda melhora a respiração e a alimentação, ajudando muito no processo de recuperação da paciente”.

Mesmo após a cirurgia no ombro, Sandra continua com o cateter para controlar a dor. No entanto, voltou a se queixar de dor nos cotos da amputação, que também já está sendo acompanhada pela equipe do Tratamento da Dor do João XXIII;

Alívio após tratamento

A técnica de enfermagem Maura Reis trabalha no HJXXIII há mais de 20 anos e também pôde comprovar a efetividade do Tratamento da Dor. Em abril, ela começou a apresentar herpes nas costas e no abdômen, sendo necessário se afastar do trabalho pela gravidade das lesões. “Minhas lesões ficaram com muito pus, não podia encostar nem a roupa. Era uma dor insuportável, não tinha remédio que aliviasse, e eu não conseguia encontrar posição para ficar”, conta.

Foi aí que a equipe da Medicina da Dor sugeriu o tratamento. “Fizemos um bloqueio simpático venoso e um bloqueio analgésico guiado por ultrassom para aliviar a dor dela, que era muito intensa, já que acometeu o sistema nervoso periférico”, explica a médica Fernanda Fantini.

Após um dia de internação para a realização do procedimento, Maura se sentiu outra pessoa. “Foi maravilhoso, me trouxe uma satisfação imensa. Agradeço muito as doutoras pela atenção e pelo cuidado que elas têm com a gente. Esses profissionais apareceram para ajudar mesmo. Uma pessoa com dor não consegue fazer nada. Não dorme, não alimenta e não anda direito. Só tenho a agradecer a Deus e a elas pela ajuda”, afirma emocionada. E completa: “Hoje, consigo fazer as tarefas e minhas lesões secaram. Ainda continuo com algumas medicações orais, mas já melhorei demais. O tratamento com os profissionais da medicina da dor foi excelente”.

Déborah Luiza Braz Rosa também é técnica de enfermagem do Hospital João XXIII e recebeu o bloqueio analgésico durante tratamento realizado pela equipe médica especializada em dor. Depois de uma queda, em 2018, que resultou no rompimento do ligamento escafo semi-lunar (localizado entre a mão e o punho), ela precisou passar por dois procedimentos cirúrgicos, que deixaram sequelas. “Tive perda da força, diminuição da mobilidade e uma dor crônica intensa. Além do bloqueio analgésico, recebi um bloqueio anestésico e fiz a proloterapia – injeção de soluções de glicose com objetivo de reduzir a dor e acelerar a recuperação dos tecidos musculoesqueléticos lesados – durante um ano e meio - além dos medicamentos via oral, que continuo usando até hoje. Já tive uma grande melhora. Não sei o que eu faria sem a ajuda dos médicos especialistas em dor, só tenho a agradecer”, afirma.

As duas pacientes ainda recebem acompanhamento médico e são tratadas com medicações via oral para controle basal da dor, sendo realizados os bloqueios apenas em casos de dor exacerbada.

Por Aline Castro Alves