19/05/2022

Com estoque abaixo do ideal, banco de leite humano da Maternidade Odete Valadares precisa de doadoras para atender demanda crescente

Primeiro a implantar posto de coleta no país, BLH da MOV fechou o mês de abril com déficit de 25%

O Banco de Leite Humano (BLH) da Maternidade Odete Valadares (MOV), da Fundação Hospitalar do Estado de Minas Gerais (Fhemig), necessita, com urgência, de novas doadoras. Os 186 litros captados em abril não foram suficientes para atender integralmente à demanda e ficaram 25% abaixo do quantitativo de 250 litros mensais, considerado ideal para o número de usuários do serviço. Cada litro de leite materno doado alimenta dez bebês prematuros.


De janeiro a abril deste ano, chegaram às geladeiras da unidade 708 litros, provenientes de 823 doadoras, o que representa uma média de 177 litros por mês. O leite humano captado pela MOV beneficia não apenas os recém-nascidos atendidos pela unidade hospitalar, como também crianças de maternidades parceiras. Em seus 35 anos de existência, o BLH captou 110 mil litros de leite humano. Entre o ano passado e os primeiros quatro meses deste ano, quase 2 mil bebês foram beneficiados.

“Com a baixa dos estoques observada nos últimos dois meses, deixamos de atender alguns bebês maiores que poderiam estar recebendo exclusivamente leite humano pasteurizado. Além disso, existem outros hospitais parceiros que também têm muitos bebês”, explica a psicóloga e coordenadora do Banco de Leite Humano da Maternidade Odete Valadares, Maria Hercília Barbosa. Segundo ela, é necessário renovar o quadro de doadoras, porque muitas mulheres retornaram ao trabalho, e a dupla jornada, muitas vezes, dificulta a doação.

Gesto que salva vidas

O Dia Mundial de Doação de Leite Humano (19/5) e Internacional de Sensibilização para o Método Canguru (15/5) representam, para as centenas de mães de bebês prematuros e de baixo peso atendidos pela MOV, a lembrança de que amamentar é uma ação que salva vidas. Por isso, é fundamental que o número de doadoras do BLH permaneça dentro do ideal, ou cresça, para assegurar a manutenção do estoque e a assistência aos recém-nascidos.

No ranking mundial de nascimentos de prematuros, o Brasil ocupa a 10ª posição. Nesse cenário, o combo amamentação/método Canguru estão ligados de forma essencial: um fortalece o outro. “O método Canguru é protetor do aleitamento materno”, reforça a médica pediatra do BLH da MOV, tutora e coordenadora do método Canguru no estado, Sandra Ornelas.

Sandra explica que o método Canguru é um cuidado humanizado ao recém-nascido prematuro, e de baixo peso, e à sua família, já que traz uma série de benefícios para o bebê. Ele consiste no contato pele a pele da criança com a mãe e o pai. A Maternidade Odete Valadares também é referência estadual para o método Canguru.

Solidariedade

A auxiliar pedagógica Nadir Duarte Teixeira Pimentel, de 23 anos, é mãe de uma das milhares de crianças que receberam o leite captado pelo BLH da MOV. A pequena Anne, de apenas 13 dias de idade, se beneficiou das doações durante os 10 dias em que ficou internada na unidade neonatal da Maternidade Odete Valadares. “Diante da necessidade, ter o banco de leite para suprir a alimentação da minha filha, enquanto eu não podia amamentá-la, foi confortante”, revela.

Nadir se mostra bastante consciente da importância do banco de leite humano. Em sua opinião, é um alicerce para a preservação da vida, que possibilita aos bebês um desenvolvimento nutritivo adequado. “O apoio às puérperas e o suporte para a amamentação são incríveis, agradeço por terem me acolhido e apoiado durante a apojadura (descida do leite) e o processo de aprendizagem para amamentar”, ressalta.

Sua filha Anne também se beneficiou do método Canguru. Ela explica que a técnica fez com que mãe e filha desenvolvessem segurança e afeto. “Sem dúvida, o nosso vínculo afetivo cresceu ainda mais; por isso, recomendo que pratiquem”.

Empatia

A assistente de Controladoria Gleicy Dantas, de 33 anos, é doadora do BLH da MOV desde que sua filha Giovanna, de 7 meses de idade, tinha 2 meses de vida.

Gleicy sabe que doar seu leite contribui para a vida e para a saúde de outras crianças. “Olho para minha filha e vejo nela o motivo que me faz ser doadora. Ver o quanto ela é saudável intensifica, ainda mais, o meu ato de doar”, assegura. “Amamentar é algo maravilhoso e quando você produz bastante leite, por que não doar? Inúmeras vidas, assim como a do seu filho, aguardam um gesto seu. Quanto mais você estimula a amamentação, mais leite você produz”, sublinha Gleicy.

Mãe das gêmeas Yve e Esther, de um mês e meio de idade, a empregada doméstica Carla Oliveira, de 31 anos, conta que não podia amamentar suas filhas. “Foi quando conheci o banco de leite. Graças a ele, minhas filhas estão bem. Elas nasceram prematuras e o método Canguru as ajudou a crescer. O resultado foi lindo. Hoje elas estão bem; ganharam peso e estou muito feliz”, pontua.

O melhor alimento

As constatações das mães são comprovadas pela nutricionista do BLH da MOV Elisângela Pessoa, que lembra que o leite humano tem papel fundamental para o desenvolvimento e o crescimento dos recém-nascidos. ”Possibilita uma nutrição de qualidade, diminui o risco de enterocolite (emergência clínica ou cirúrgica mais comum em prematuros, responsável por uma taxa de mortalidade de 50%), evita infecções e alergias. É o melhor e mais específico alimento para o bebê”, salienta a profissional.

Ainda de acordo com a nutricionista, os bebês aceitam bem o leite humano doado, porque é semelhante ao de suas mães. “Tem menos risco de distensão abdominal, intolerância à dieta e mais proteção gastrointestinal, completa.

Cultura do aleitamento

A coordenadora do BLH da MOV, Maria Hercília Barbosa, esclarece que os bancos de leite, por terem como principal objetivo a promoção, a proteção e o apoio ao aleitamento materno, ajudaram a alavancar os índices de aleitamento no país. Segundo ela, na década de 80, os índices de aleitamento materno giravam em torno de 7%.

Atualmente, de acordo com o último estudo nacional de alimentação e nutrição infantil (ENANI), divulgado em 2021, observa-se que os índices de aleitamento materno continuado, em menores de 12 meses, superam a casa dos 50%. “Isso mostra como essa estratégia, aliada a outras, está contribuindo para criar a cultura do aleitamento materno. A mídia também contribui bastante, bem como os formadores de opinião, médicos, artistas etc.”, explica.

Para ratificar o quanto é importante a doação de leite humano e o que a consciência desse ato representa para as mães doadoras, Hercília conta que, recentemente, uma mãe de prematuro, cujo bebê ainda não pode receber seu leite, vem ao BLH para fazer sua doação, mesmo sabendo que tem pouco leite para coletar. “Ela sente-se muito feliz em poder ajudar outros bebês enquanto o seu não pode receber”.

Por Alexandra Marques

Fotos: Renato Cobucci