07/02/2024

Uso excessivo de álcool está relacionado ao maior número de acidentes durante o carnaval

Experiência dos especialistas do Hospital João XXIII mostra que os atendimentos refletem o comportamento dos foliões

Com a retomada do carnaval no ano passado, quando 5,25 milhões de foliões acompanharam os blocos e os desfiles nas ruas de Belo Horizonte, a expectativa para este é ainda maior, são esperadas 5,5 milhões de pessoas na capital e outras 6,6 milhões no interior do estado. Com isso, aumenta a possibilidade de que o número de entradas de pacientes nos serviços de saúde também cresça entre os dias 10 e 13 deste mês. 

Em 2023, somente no Hospital João XXIII (HJXXIII), referência em politraumatismos, houve 233 atendimentos por causas ligadas direta ou indiretamente ao uso abusivo de álcool e outras drogas, situação que costuma se repetir a cada ano, durante os quatro dias de folia. Em 2019, foram 252 entradas e, em 2020, 269 pessoas foram atendidas. A combinação entre álcool e grandes aglomerações costuma resultar (além de intoxicações alcoólicas) em tombos, brigas e outros tipos de agressões, acidentes envolvendo motos, carros e pedestres.

Considerando os últimos cinco anos, se compararmos esses números com o mesmo período dos anos de 2021 e 2022, em que as comemorações foram suspensas em razão da pandemia da covid-19, fica claro o impacto do comportamento dos foliões, durante o carnaval, sobre as entradas na rede de saúde. Especialmente o pronto-socorro do Hospital João XXIII, do Complexo Hospitalar de Urgência e Emergência (CHUE) da Fundação Hospitalar do Estado de Minas Gerais (Fhemig): A redução foi superior à metade do quantitativo de casos (55,97%). Além disso, em 2021 e 2022, não houve atendimentos por intoxicação alcoólica no período que corresponderia a essa festa popular.

Álcool e rodovias

“Os casos mais graves que chegam ao HJXXIII são de acidentes nas rodovias federais (BRs), envolvendo pessoas que vêm de outras cidades para BH. Nesse período, as rodovias ficam mais movimentadas, aumentando o risco de acidentes associados ao uso de álcool”, reitera o cirurgião geral e gerente médico do CHUE, Rodrigo Muzzi.

Ainda segundo Muzzi, dentro da cidade, as principais ocorrências são atendidas nas Unidades de Pronto Atendimento e nos Postos Médicos Avançados, criados especificamente para esse período. “São casos clínicos, de pessoas que bebem demais e passam mal, ou não se hidratam o suficiente e desmaiam, como também de pequenos ferimentos, como cortes e escoriações”, sublinha.

Criança: atenção redobrada

Dos 536 blocos de rua que desfilam no carnaval deste ano em Belo Horizonte, 21 são destinados às crianças. Meninas e meninos são mais sensíveis aos efeitos do calor, principalmente, neste período do ano, quando as temperaturas estão ainda mais altas e a radiação ultravioleta têm alcançado níveis extremos. Portanto, não leve os pequenos para a rua sem proteção solar, roupas leves, chapéus ou bonés. Ofereça água ao longo de todo o tempo em que estiverem fora de casa e os alimente adequadamente. Tenha cuidado com a procedência dos alimentos. Se certifique de que estão frescos e sempre prove a comida antes de oferecê-la às crianças. 

Não se afaste dos pequenos em nenhuma circunstância. Em grandes aglomerações, o risco de perdê-los aumenta consideravelmente. Ao chegar aos locais de desfile dos blocos, verifique as áreas de evacuação e mantenha a calma caso ocorra alguma situação em que seja necessário deixar o local antes do tempo previsto. 

Em caso grave: hospital

As Unidades de Pronto Atendimento (UPAs) e os Postos Médicos Avançados devem ser procurados pelos foliões nos casos de baixo risco, como pequenos cortes, escoriações, desidratações ou outras situações semelhantes. Os postos avançados vão funcionar 24 horas, das 19 horas do dia 9 de fevereiro às 7 horas do dia 14/02. Eles estão localizados no Centro de Referência das Juventudes (rua Guaicurus, 50 – Centro) e Upa Centro-Sul (rua Domingos Vieira, 488 – Santa Efigênia).

O atendimento hospitalar, como no caso do Hospital João XXIII, deve ser buscado somente nas ocorrências mais graves, a exemplo das agressões por arma de fogo ou por arma branca (facas etc.), quedas da própria altura, intoxicação alcoólica grave, acidentes de trânsito, entre outros que causam traumatismos ou ferimentos severos.

Cachoeira requer cuidado 

Minas é conhecido também por suas cachoeiras. No estado fica a terceira maior do país: a do Tabuleiro. Somente no ano passado, os parques estaduais atraíram quase um milhão de visitantes. Quem pretende trocar a agitação dos blocos de rua e dos desfiles de carnaval pela tranquilidade das atrações naturais, deve estar atento à profundidade das águas e avaliar bem o local antes de mergulhar. Também é importante se informar sobre a possibilidade de trombas d'água, muito comuns nesta época do ano, em razão da maior quantidade de chuvas. Em caso de tempestade, não entre na água.

A falta de cuidado ao realizar mergulhos ou mesmo ao entrar nas águas de cachoeiras, rios, lagos ou poços pode resultar em lesão grave na medula (lesão raquimedular). Frequentemente, acidentes desse tipo têm como causa primária o uso abusivo de álcool ou outras drogas, que comprometem a capacidade de julgamento para os riscos aos quais a pessoa se expõe. Outra dica importante é evitar brincadeiras como empurrar amigos para dentro de cachoeiras, poços, rios ou lagos.

Afogamentos

Se você não sabe nadar, jamais se arrisque a entrar na água, seja em piscina, cachoeira, poço, lago ou rio. Se sabe, nunca superestime sua habilidade e não nade em locais isolados. Adote o hábito de consultar o guarda-vidas sobre o melhor local para o banho. E lembre-se de que as bandeiras vermelhas indicam alto risco de afogamento. Se estiver em embarcação, use o colete salva-vidas e não tente salvar alguém se você não estiver em condições.

Em qualquer circunstância, o uso de álcool e outras drogas potencializam as chances de afogamento. Se utilizou substâncias desse tipo, não supervisione ou fique próximo a crianças, que devem sempre usar boias e estar acompanhadas por um adulto sóbrio. 

Dengue

Este ano, o aumento dos casos de dengue no estado é mais um fator que pode contribuir para a ampliação do número de atendimentos nos hospitais e demais serviços de saúde durante o carnaval. Para ampliar o atendimento e apoiar a assistência à população de Belo Horizonte, principalmente da região do Barreiro, a Fhemig abriu uma unidade de hidratação (reposição volêmica) no Hospital Júlia Kubitschek (HJK), na última sexta-feira (02/02). São 21 poltronas para atendimento a pacientes que necessitam de hidratação venosa e 30 cadeiras para hidratação oral. O serviço funciona, todos os dias, das 7 às 19 horas.

Por Alexandra Marques
Foto: Pedro Gontijo