26/03/2020

Infectologista da Fhemig esclarece sobre ação do coronavírus em crianças

Com a chegada do COVID-19 (coronavírus), muitas dúvidas e receios vêm surgindo, especialmente para quem tem crianças em casa. De acordo com a infectologista pediátrica do Serviço de Controle de Infecção Hospitalar do Hospital Infantil João Paulo II (HIJPII), da Rede Fhemig, Daniela Caldas Teixeira, estudos que avaliaram o comportamento da doença em outros países demonstram que as crianças responderam por um percentual baixo em relação ao total de casos diagnosticados e, quando infectadas, apresentavam-se, em sua maioria, com ausência de sintomas ou com doença leve - com a manifestação de vias aéreas superiores como um resfriado comum.

“Dentro da população pediátrica, seriam grupos de risco aquelas imunossuprimidas (ou por imunossupressão primária, HIV ou uso de medicamentos imunossupressores, como quimioterápicos), cardiopatas, portadores de anemia falciforme e pneumopatas (aqui incluímos asma, mas não entra rinite ou infecção de via aérea superior de repetição)”, explica a infectologista.

Entre os poucos casos de infecção grave em pacientes pediátricos, a maior incidência deles teria ocorrido em menores de 1 ano, não tendo havido, ainda, evidências de casos de transmissão vertical, ou seja, bebês infectados ainda na barriga da mãe. No entanto, a médica ressalta que, em casos de mães infectadas, o aleitamento materno não deve ser suspenso. “Considerando a passagem de anticorpos maternos que auxiliarão na proteção do neném, não aconselhamos parar. No caso, orientamos a mãe reforçar as medidas de higienização das mãos e utilizar máscara cirúrgica ao ter contato com a criança durante a amamentação”.


O que pode

Manter as crianças em casa por tanto tempo é o grande desafio da maior parte das famílias. Porém, a médica explica que, tomando alguns cuidados, elas podem, e devem, aproveitar o tempo livre para se divertirem.

“É importante orientá-las sobre as técnicas de higienização de mãos, explicar que deve ser evitado tocar rosto, levar as mãos na boca, além de cobrir a boca com o braço ao tossir. Também deve ser realizada, com frequência, a higiene nasal com soro fisiológico, utilizando lenço descartável e lavando as mãos logo em seguida”, afirma a infectologista.

Evitar locais fechados e aglomerações, preferir brincadeiras em ambientes abertos, sempre que possível, e optar pela utilização de brinquedos que possam ser higienizados antes e após o uso, com água e sabão ou com álcool 70%, são mais alguns cuidados importantes a serem tomados neste momento.

Evite hospital

Segundo a médica, a ida a hospitais deve ser evitada ao máximo. “Caso a criança apresente sintomas leves, como coriza e tosse, mesmo que acompanhados de febre, seria interessante evitar a procura imediata por atendimento, devido ao risco de exposição a pacientes infectados”, alerta.

Para esses casos, ela recomenda reforçar a higienização nasal, com soro fisiológico puro, e a hidratação, e fazer uso de antitérmicos, em caso de febre, além de evitar os anti-inflamatórios.

A procura por atendimento médico é aconselhada apenas em casos de agravamento dos sintomas, como dificuldade para respirar, apesar da higienização nasal adequada, prostração e sinais de desidratação (saliva grossa, ausência de urina por mais de seis horas, olhos fundos).


Mudanças no HIJPII

Com o objetivo de diminuir a exposição de risco de usuários e servidores no pronto atendimento do HIJPII, desde a primeira semana de fevereiro foi implementada a pré-triagem, visando identificar e isolar rapidamente pacientes de risco para COVID-19 assim que chegassem à unidade, conforme recomendação da Secretaria de Estado de Saúde (SES), do Ministério da Saúde (MS), do Centro de Controle e Prevenção de Doenças (CDC) e da Organização Mundial da Saúde (OMS).

Além disso, desde o último dia 23, foi iniciado um fluxo com funcionamento de dois pronto-atendimentos em paralelo, sendo um deles apenas para atendimento de quadros respiratórios, localizado no térreo do prédio Carlos Chagas, e o outro para atendimento das demais queixas, localizado no segundo andar do mesmo prédio. A mudança foi necessária garantir a separação dos pacientes que apresentam sintomas respiratórios daqueles com outros quadros que justifiquem a procura por atendimento médico de urgência.

Atualmente, o complexo de urgência pediátrica da Fhemig conta com 26 leitos de UTI, sendo 16 deles no HIJPII e 10 no Hospital João XXIII. Além disso, estão sendo abertos outros oito leitos sobressalentes, a fim de ampliar a capacidade de atendimento a pacientes críticos em sazonalidade de doenças respiratórias.


Vetores

Apesar da incidência de casos graves ser bem menor em crianças, vale lembrar que elas podem servir de vetores para a doença. Ou seja, em muitos casos, elas podem estar contaminadas pelo vírus e não apresentar sintomas, mas, mesmo assim, transmitir o COVID-19. Por isso, é essencial evitar que elas tenham contato com idosos, que é o grupo de risco suscetível a desenvolver formas graves da doença.

 

Por Aline Castro Alves

Foto: Banco de Imagens Fhemig