22/06/2020

Visita virtual e comunicação alternativa humanizam assistência aos pacientes com covid-19 internados no HEM

O uso de videochamadas e de pranchas de comunicação alternativa, como recursos para viabilizar o contato com a família e promover a compreensão das demandas dos pacientes com covid-19, internados no Hospital Eduardo de Menezes (HEM), humaniza a assistência, com impactos positivos para a saúde dos homens e mulheres atendidos na unidade, primeiro hospital de Minas dedicado exclusivamente ao tratamento do novo coronavírus.

"Essa comunicação com os parentes nos fortalece. A preocupação com a gente foi tanta, que eles fizeram isso. Parecia que eu estava em casa, de tanto amor que recebi. Que maravilha! Tenho muita vontade de viver. Viver é muito bom", conta o aposentado Luiz Viana, 67 anos, sobre o recurso da videochamada que permitiu a ele comunicar-se com a esposa, praticamente todos os dias, ao longo das duas semanas em que esteve internado, em estado grave, na unidade de tratamento intensivo e na enfermaria do HEM.

A esposa, que também testou positivo para a covid-19, mas não necessitou de internação e permaneceu em isolamento em casa, diz que foi a primeira vez que ficou tanto tempo longe do marido. Segundo ela, as visitas virtuais ajudaram a reduzir a saudade, a ansiedade e o sofrimento, porque podia acompanhar, mesmo distante, a evolução do quadro de saúde de Luiz. "É ruim para a família não poder ter o contato físico. A presença é muito importante", sublinha Ana Maria.

Humanizar

As visitas virtuais foram adotadas pelo HEM em abril, por iniciativa da coordenadora da Unidade de Terapia Intensiva (UTI), a médica Teresa Barros, para humanizar o atendimento aos familiares, devido à suspensão das visitas presenciais, medida de segurança necessária em razão da alta transmissibilidade do novo coronavírus. Os aparelhos utilizados (celulares e tablet) foram doados pela Secretaria de Estado de Saúde de Minas Gerais (SESMG), por uma empresa privada e por uma pessoa física.

A iniciativa da médica atendeu aos pedidos dos familiares que, até então, recebiam notícias sobre o quadro de saúde do paciente por meio de ligações dos médicos e também ao desejo dos profissionais do hospital de buscar alternativas para diminuir a angústia dos pacientes e de seus familiares.

De acordo com a Coordenadora do Serviço Social, Psicologia e Terapia Ocupacional do Setor de Internação, a assistente social Carla Adriana Martins, os profissionais também são beneficiados com a experiência, pois se sentem confortados por ajudar a amenizar a angústia dos pacientes e de seus familiares.

Todos os dias

As videochamadas são realizadas todos os dias, no período da tarde e da noite. Normalmente, são feitas pelo Serviço de Psicologia e, em algumas situações, de forma conjunta com o Serviço Social. Os aparelhos são desinfectados antes e após sua utilização.

Outro aspecto importante é que as visitas virtuais somente são efetivadas após o contato prévio com a família, "a fim de organizar melhor o horário e também propiciar o preparo emocional, tanto do paciente, quando está lúcido e orientado, e também do familiar, buscando maior cuidado com ambos", conta Carla. 

Relação de confiança

Teresa sublinha o árduo trabalho da equipe de coordenação e dos médicos horizontais, responsáveis por acompanhar a evolução do quadro clínico dos pacientes, "que se dispõem a dar as notícias por videochamadas para aproximar as famílias do médico assistente e melhorar a relação de confiança".

Comunicação alternativa

As pranchas de comunicação alternativa começaram a ser usadas no início de junho, quando o Hospital Eduardo de Menezes recebeu 34 kits enviados pela SESMG. O HEM foi o primeiro hospital de Minas a adotar esse tipo de prancha com os pacientes acometidos pela forma grave da covid-19 e que se encontram em uso de ventiladores mecânicos ou de outros procedimentos que limitam ou impedem a comunicação oral. 

O material, desenvolvido pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), foi impresso pelo Conselho Regional de Fonoaudiologia da 6ª Região (CREFONO6) e é distribuído pela SESMG para hospitais, SAMU e Unidades de Pronto Atendimento (UPA) que atendem pacientes com covid-19 no estado.

As pranchas trazem símbolos gráficos que permitem ao paciente comunicar sentimentos, elaborar perguntas simples, responder a questionamentos e fazer pedidos. Ao apontar para símbolos ou letras nos cartões, ele pode formar pequenas frases ou indicar suas necessidades à equipe que o acompanha.

Cena marcante

De acordo com a fonoaudióloga Viviane Bessa, que coordena o uso das pranchas no HEM, os kits estão fazendo sucesso entre as equipes e os pacientes. "Cheguei a me emocionar ao atender um paciente que está em uso de traqueostomia e ninguém conseguia entendê-lo. Ele chorou muito ao conseguir se comunicar por meio da prancha. Foi uma cena marcante. As pranchas trouxeram um impacto muito positivo ao nosso trabalho", revela a profissional.

Ao adotar essa modalidade de comunicação alternativa, os profissionais buscam estabelecer um elo efetivo de comunicação entre a equipe assistencial e o paciente para proporcionar um atendimento acolhedor e humanizado. 

Receptividade

Viviane afirma que o uso da prancha permite também minimizar o impacto da internação e diminuir a ansiedade do paciente. "Os pacientes têm se mostrado muito receptivos e tenho constatado uma menor ansiedade frente à internação", sublinha a fonoaudióloga.

Diante dos resultados positivos alcançados com as pranchas desenvolvidas pela UFRGS, Viviane conta que a equipe do hospital estuda um meio de padronizar a comunicação alternativa para a realidade institucional do HEM. "Instituir de forma permanente e padronizada nas enfermarias e alas e discutir a implantação com toda a equipe assistencial para uma atuação conjunta e efetiva", pontua.

Por Alexandra Marques