10/09/2019

Setembro Amarelo: amparo é a melhor prevenção ao suicídio

Amarelo é a cor, segundo o Código de Trânsito, que sinaliza atenção nos semáforos urbanos. Esse conceito pode ser utilizado também quando definimos a importância do Setembro Amarelo: a atenção é essencial quando se trata de prevenir casos de suicídio. Frases que podem ser consideradas banais devem ser observadas com maior cuidado quando são ditas com frequência, como “quero sumir”, “estou cansado de tudo”, “vou deixar vocês em paz”, “eu queria poder dormir e nunca mais acordar”. A manifestação pode revelar um sofrimento intenso, uma dor insuportável que precisa de ajuda, mas, principalmente, de muita sensibilidade para ser identificada, acolhida, escutada e cuidada.


“Deve se falar de suicídio, porém de forma responsável. Precisamos saber identificar os sinais e aonde ir pra buscar ajuda. A prevenção acontece quando criamos uma rede de amparo social”, explica a psicóloga do Hospital João XXIII, Luciana Santos.

Essa rede não só envolve os serviços de saúde pública - unidades básicas, Núcleos de Atenção à Saúde da Família (NASF), Centros de Atenção Psicossocial (CAPS)/Centros de Referência de Saúde Mental (Cersam), como também as escolas, a justiça e a defesa social. Um aliado importante nessa luta é o Centro de Valorização da Vida – CVV (que atende gratuitamente as pessoas que querem conversar, sob total sigilo, por telefone (188), e-mail, chat e Skype, 24 horas, todos os dias). Luciana ainda acrescenta que amigos, colegas e familiares também são responsáveis nessa rede; por sua proximidade, podem identificar comportamentos estranhos. “Sempre sem julgamentos, apenas se dispondo a escutar, acolher e a buscar ajuda especializada”, enfatiza a psicóloga.

Tentativas prévias, transtornos mentais (não só a depressão, como se acredita), questões sociais e emocionais e condição de vida limitante são alguns fatores de risco.

Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS, 2014), o suicídio é a segunda causa de morte mais frequente na faixa etária entre 15 e 29 anos. No Brasil, é a quarta causa na mesma faixa etária (Ministério da Saúde, 2017). A cada 45 minutos, uma pessoa se mata em nosso país. E outra estimativa importante: de seis a dez pessoas ao redor de quem morre por suicídio são diretamente afetadas.


Mitos

Ao se falar se suicídio, é preciso estabelecer que são mitos:

1) “Quem tenta suicídio, não tem intenção de morrer. Quem tenta suicídio não quer morrer, só chamar a atenção!” Tentativas não são para chamar atenção, não é “falta de Deus”, não é “falta de serviço”; refletem um sofrimento muito intenso.
2) “A maioria dos suicídios ocorrem sem advertência prévia”: A maioria das pessoas que tentam suicídio demonstra sinais, avisam.
3) “Quem tenta suicídio está decidido sobre o desejo de morrer!”. Nem sempre a intenção é morrer, muitas vezes é um desejo de por fim ao sofrimento que é intenso.
4) “Quem tenta o suicídio uma vez, nunca deixará de ser um suicida”: há grande chance de uma pessoa se recuperar caso receba ajuda e amparo necessários.
5) “Só as pessoas com transtornos mentais tentam suicídio”. Às vezes, não se tem uma doença mental, mas um sofrimento intenso.
6) “Falar sobre suicídio é uma má ideia e pode estimular o comportamento suicida”: Deve-se falar de suicídio, desde que de forma responsável.


Proteção

Assim como existem fatores de risco, também existem fatores de proteção. O mais importante deles é o apoio da família e de amigos, estreitar os laços sociais, bem como é essencial ter acesso aos serviços de saúde. “As pessoas precisam se importar mais com as outras, estarem mais disponíveis”, diz Luciana. Ela também cita o envolvimento na comunidade, a inserção por meio do lazer, da cultura, como, por exemplo, participar de grupos teatrais, de times de futebol, ter alguma religião, entre outras atividades coletivas.
A psicóloga lembra que as redes sociais e os aplicativos de bate-papo estão tornando cada vez mais difícil o contato humano, criando amizades que muitas vezes não são reais. “O mundo virtual mostra uma felicidade sem defeitos e na vida real não é assim. Isso diminui o limiar de frustração, ou seja, facilita o ‘descarte’ de quem nos frustrou e aumenta ainda mais a distância entre as pessoas”, opina.


A equipe do Hospital João XXIII

O Hospital João XXIII oferece atualmente uma equipe de 18 psicólogos e cinco residentes que atuam por 24 horas. Além da busca ativa, quando eles percorrem os leitos para identificar os casos, a equipe também é acionada por qualquer funcionário do hospital que entende que é necessária sua intervenção para atender a algum paciente.

Os psicólogos não só acompanham os pacientes, mas também atendem e orientam familiares. “Precisamos sensibilizar a família para que ela ajude o paciente a procurar a rede de cuidados e aderir ao tratamento necessário. Um protocolo interno garante ainda que este paciente tenha acompanhante durante toda sua internação”, explica Luciana.

A equipe faz a avaliação psicopatológica dos casos, acompanha durante a internação ajudando o paciente a elaborar seu sofrimento e, antes da alta, faz o encaminhamento para a rede psicossocial, solicitando o traslado para o paciente.

Setembro Amarelo

Setembro Amarelo é uma campanha de conscientização sobre a prevenção ao suicídio. A data, 10 de setembro, existe desde 2003, criada pela International Association for Suicide Prevention. No Brasil, o Setembro Amarelo foi criado em 2015 pelo Centro de Valorização da Vida (Disque 188 - CVV), Conselho Federal de Medicina (CFM) e pela Associação Brasileira de Psiquiatria (ABP).

Recentemente, foi regulamentada a Política Nacional de prevenção da Automutilação e do Suicídio, a Lei 13.819, de 26 de abril de 2019.


Por Michèlle de Toledo Guirlanda