30/01/2023

Dia Nacional das Doenças Tropicais Negligenciadas acende alerta para patologias pouco conhecidas da população

 Hospital Eduardo de Menezes, da Rede Fhemig, realiza importante trabalho de saúde pública com serviços especializados nesse tipo de tratamento.

Doenças Tropicais Negligenciadas (DTN’s) são causadas por agentes infecciosos, como bactérias, protozoários e fungos, e costumam ser endêmicas em regiões onde a segurança da água, o saneamento e o acesso aos cuidados de saúde são precários ou insuficientes. São consideradas negligenciadas porque, historicamente, possuem poucos investimentos em pesquisa, prevenção, imunização, medicamentos, inovação e rede de assistência.

O Hospital Eduardo de Menezes (HEM), da Fundação Hospitalar do Estado de Minas Gerais (Fhemig), oferece atendimento a estas doenças por meio de seus serviços especializados em infectologia e dermatologia sanitária.

O dia 30 de janeiro, data escolhida para lembrar essas enfermidades, é o aniversário da histórica Declaração de Londres, de 2012, que unificou parceiros entre setores, países e comunidades para pressionar por mais investimentos e ações nestas patologias.

Impacto social

Segundo dados do Ministério da Saúde, as DTN’s ameaçam mais de 1,7 bilhão de pessoas que vivem em comunidades pobres e marginalizadas do mundo. São agravos que, além de incapacitar pessoas, tiram não apenas sua saúde, mas também impactam em sua convivência social.

A Organização Mundial da Saúde (OMS) possui uma lista com 20 doenças consideradas negligenciadas, que é atualizada periodicamente. Entre as principais DTN’s no Brasil, estão as leishmanioses, a tuberculose, a paracoccidioidomicose, a dengue, a hanseníase, a malária, a esporotricose, a raiva, a esquistossomose e outras verminoses intestinais.

Atendimento multidisciplinar

De acordo com a dermatologista do HEM, Rozana Castorina, a unidade atende atualmente, dentre um grande rol de doenças negligenciadas, muitos casos de micoses profundas e subcutâneas, além da hanseníase e leishmaniose tegumentar. Para isso, o serviço de dermatologia sanitária, referência no Estado, entra em ação com sua equipe multidisciplinar.

A médica relata que, dentre as micoses subcutâneas, tem ocorrido nos últimos anos um aumento do número de casos de esporotricose, causada por um fungo do gênero Sporothrix por meio de uma ferida na pele. “Essa doença, ainda pouco conhecida pelos pacientes, é cada vez mais frequente, em especial em pacientes que têm contato com gatos”, avisa a especialista. Além da mordida e arranhões dos animais doentes, a infecção pode acontecer por meio de acidentes com espinhos e lascas de madeira, e contato com vegetais em decomposição.

A dermatologista afirma que a maioria desses casos têm cura. “O importante é dar o diagnóstico correto e manter o tratamento de forma regular”, destaca. A média de duração do tratamento das DTN’s dermatológicas é de um ano, podendo chegar a dois anos no caso das micoses.

Encaminhamentos

O diagnóstico para essas doenças tem início nas Unidades de Pronto Atendimento (UPA’s), onde a população pode ter acesso a medicamentos e a pedidos de exames. Para a realização do tratamento no HEM, os encaminhamentos são regulados pela central de marcação de consultas de Belo Horizonte ou procedentes de encaminhamento de secretarias municipais do interior do estado.

“Todos os pacientes são atendidos pelas equipes multiprofissionais, além das especialidades de apoio, e são levantadas as necessidades e feito plano de cuidado individualizado para todos eles”, ressalta a diretora da unidade, Tatiani Ferreguetti. Além disso, o hospital oferece a confecção de órteses, rastreio familiar, e realiza o controle de complicações clínicas de pacientes portadores de hanseníase.

Estigma

Grande parte destas condições possui um grande estigma social, e, portanto, exigem um acompanhamento contínuo para evitar que os pacientes deixem de seguir o tratamento, e, dessa forma, oferecer algum risco à população. “A equipe multidisciplinar do ambulatório realiza o controle das faltas ou abandono dos pacientes”, avisa a dermatologista. Cada profissional possui um importante papel neste trabalho. “O serviço social realiza a busca ativa, a enfermagem faz a pré e pós-consulta e dá as orientações necessárias; oferecemos ainda psicólogos que acompanham os pacientes. Toda a equipe faz o máximo possível para que os pacientes mantenham a adesão”, completa a diretora.

As DTN’s são especialmente preocupantes quando associadas à infecção por HIV, já que desencadeiam manifestações graves no paciente, principalmente de doenças dermatológicas infecciosas, o que dificulta o tratamento, somado ainda a uma maior estigmatização destas pessoas. “Tanto a leishmaniose quanto a esporotricose têm maior probabilidade de apresentar quadros cutâneos disseminados em pacientes coinfectados pelo vírus do HIV”, finaliza Rozana.

Por Anni Sieglitz