08/05/2020

Mães conciliam dedicação à família e aos pacientes da covid-19

Uma das datas comemorativas mais especiais do ano está chegando, mas, este ano, com um clima diferente. Com o isolamento social, devido à pandemia do novo coronavírus (covid-19), as tradicionais reuniões em família no Dia das Mães terão que ser adiadas. Para muitos, uma experiência nova e uma oportunidade de reinventar formas de estarem juntos e demonstrarem afeto, mesmo que separados fisicamente. Um momento difícil enfrentado por toda a sociedade, e ainda mais complicado para os profissionais, especialmente as mães, que estão trabalhando na linha de frente no combate à doença e têm que conciliar o trabalho exaustivo nos hospitais com as tarefas domésticas, que requerem uma dedicação ainda maior neste período de quarentena, com as escolas fechadas e as crianças em casa.

 É o caso da médica clínica e geriatra da Unidade de Emergência do Hospital Júlia Kubitschek (onde, atualmente, todas as enfermarias estão reservadas para o tratamento de pacientes com o coronavírus), Ana Cristina Catão Alves Miranda (foto ao lado, com a mãe). Há 11 anos na unidade, ela enfrenta o desafio de conciliar o atendimento no hospital, ainda mais intenso, com os afazeres de casa.  “Trabalhar nesta pandemia é um grande desafio, pois trata-se de uma doença ainda pouco conhecida, com múltiplas apresentações. As informações novas vão surgindo a todo momento, e precisamos estar sempre atualizados. Além disso, houve uma grande mudança na rotina da casa com o distanciamento social. Minhas filhas tendo aulas virtuais, meu marido trabalhando em casa a maior parte do tempo, e a necessidade de realizar tarefas domésticas que não faço no dia a dia, como cozinhar”, conta. Mãe da Maria Fernanda (14) e da Ana Carolina (13), e filha da Consuelo (74), a comemoração este ano será limitada. “Minhas filhas vão preparar um almoço especial para comemorarmos. Já a minha mãe, tenho visto apenas na porta de casa ou pela janela, sem nenhum contato físico. Estou sentindo muita falta dos almoços de domingo na sua casa, mas neste momento é o que precisamos fazer para manter a segurança de todos”, afirma.

Tatiani Fereguetti (foto ao lado), mãe da Malu (1 ano e meio) e da Maitê (3) também teve sua rotina e jornada de trabalho impactadas pela chegada da pandemia. Gerente assistencial do Hospital Eduardo de Menezes (HEM), único hospital mineiro referência estadual atendendo exclusivamente casos do novo coronavírus, ela vem correndo contra o tempo desde que receberam, no final de janeiro, o primeiro caso suspeito da doença na unidade. “Ficamos imersos em um trabalho árduo de resposta rápida às demandas que se apresentam diariamente para planejar a resposta hospitalar de curto e médio prazo, como elaboração de protocolos, fluxos, treinamentos, contratação de equipes, abertura de novos leitos, gerenciamento de riscos, dentre outras frentes de trabalho”, explica.

Segundo ela, apesar de ser desgastante física e emocionalmente em alguns momentos, é também gratificante, já que é uma oportunidade para aprendizado e contribuição humanitária. “De certa forma, me sinto cumprindo minha missão enquanto profissional da saúde e médica”, afirma. Para ela, o Dia das Mães também será bem diferente dos anos anteriores. “Provavelmente faremos uma videoconferência com nossas mães e ficaremos em casa. Minha mãe tem 64 anos e mora com a minha avó de 95. Estou há quase dois meses sem encontrá-las. Mas penso que, apesar do distanciamento físico, nunca estivemos tão conectadas, pois nos falamos diariamente por telefone. Além disso, aprendi a curtir mais os momentos em casa. Fazemos festa do pijama, acampamento na sala, pintura no azulejo do banheiro etc. Apesar de todo aperto no peito e dificuldades para conciliar a maternidade, família e o trabalho exaustivo, sigo tentando transmitir para minhas filhas aquilo que sempre enxerguei em minha mãe: exemplo de força, coragem, fé e muita resiliência”, afirma.

Fabiana do Carmo Vieira também é gerente no Hospital Eduardo de Menezes (HEM), na área administrativa. Mãe do pequeno Matheus (3), ela está na unidade há como técnica de enfermagem. Graduada em enfermagem, ela já passou por outras epidemias perigosas, como a da H1N1 e da ebola. Com a dedicação ao máximo, tem saído normalmente do hospital depois das 20 horas neste período. Mesmo com o coração "apertado", ela diz que cumpre sua missão com confiança, já que escolheu trabalhar no HEM. Compartillhando suas angústias com as outras dezenas de mães da unidade, elas encontram formas de protegerem a si mesmas e suas famílias, cumprindo à risca as orientações das constantes capacitações que a equipe passa. "Temos muita transparência nas informações e um fantástico serviço de suporte ao servidor, que pode buscar atendimento e esclarecimentos a qualquer momento", afirma.

Matheus está sob os cuidados do pai e da avó, que não abre mão dos netos e o vê a cada dois dias. Fabiana comenta que o risco está em toda parte, porque agora a transmissão da covid-19 é comunitária. "Tomamos todo o cuidado necessário, o isolamento social, a higienização das mãos, o uso dos EPI's, a troca de roupa e o banho imediatamente quando chego em casa. Só abraço meu filho quando me certifico que fiz tudo o que podia", conta. Ela admite que o medo no início a fez pensar em deixar as roupas no carro e se questionava muito. "Estou cumprindo a missão que Deus me deu e sei que, enquanto estou cuidando dos outros, ele está cuidando do meu filho e da minha família", diz. "Meu filho outro dia falou com o pai que precisava de mim em casa, porque ele estava acostumado a me ver mais, pois ficava na creche da unidade". Apesar da saudade, ela confia que a equipe do hospital vai sair disso tudo muito mais forte e unida.

O cuidado em tempo integral também faz parte da rotina da enfermeira Viviane Casimiro Fernandes, mãe do Vinícius (6) e do Davi (2). "Estou no Eduardo de Menezes há 8 anos e tenho experiência, treinamento e material para lidar com doenças infectocontagiosas, mas essa é a primeira que enfrento que é respiratória e muito fácil de ser transmitida, portanto, o risco é maior", explica. Os meninos estão ficando com o pai enquanto ela trabalha, pois preferiu que eles não tivessem contato com a avó. "Mesmo tendo cuidado, é díficil não se preocupar com a segurança da minha família, mas vou continuar seguindo na minha missão com a mesma dedicação, usando as máscaras, luvas, todo o equipamento, higienizando as mãos, e realizando todos os procedimentos de proteção ". Viviane aproveita para mandar um recado para as outras mães, suas colegas: "Força neste Dia das Mães, estamos todas no mesmo barco, somos uma só tripulação. Isso vai passar e sairemos todas mais fortes e com saúde".


Fé é o que também tem dado forças para a médica intensivista e coordenadora da UTI do Hospital Eduardo de Menezes (HEM), Teresa Gamarano Barros (ao lado, na foto, com a avó, a mãe e a filha, no colo), seguir em frente. “Minha rotina hoje é de muito mais trabalho, com uma demanda maior da equipe, sem falar da preocupação com a higiene ao voltar para casa. Mas são o carinho da família, o amor pela medicina e a fé em Deus que têm me sustentado”, afirma. “O trabalho com a covid-19 tem me exigido muitas horas de dedicação. São três perspectivas pesadas: muito estudo, porque é uma doença nova, com novas informações diariamente; muito temor em adoecer; e muito trabalho, para lidar com os doentes graves e a estruturação de toda equipe. Mas o time é forte e estamos vencendo dia a dia”, conta orgulhosa.

Com dois filhos pequenos – Davi (5) e Olívia (3), e com a mãe, Angélica (59), morando em outro estado, a comemoração do Dia das Mães da médica deverá ser apenas ao final do dia, já que ela estará de plantão na data. “Minha mãe mora longe, em Santa Catarina. É muito forte e trabalhadora. Sinto muita saudade dela e da minha avó Dorinha, minha segunda mãe. Íamos nos encontrar final de março, mas cancelamos tudo por causa da pandemia. Como estarei trabalhando no domingo, devo fazer apenas um lanchinho com as minhas filhas”, afirma.

Apesar da vontade de querer estar próximo de quem se ama, especialmente em datas comemorativas, é importante lembrar que o isolamento social é necessário e passageiro. Se manter isolado hoje é um ato de amor e solidariedade, pois se trata de uma medida de proteção fundamental diante da pandemia do coronavírus.

Lembrando que o isolamento social não significa isolamento emocional. Aproveite a data e a ocasião para buscar novas formas de demonstrar o seu carinho para quem tem o maior amor do mundo por você: a sua mãe!

Por Aline Castro Alves