28/08/2020

Consolidadas como polo formador, residências psiquiátricas da Fhemig têm papel preponderante na atenção à Saúde Mental

A residência médica da Fhemig, em suas diversas especialidades, ocupa o posto de segunda principal formadora de médicos especialistas em Minas Gerais. Os residentes atuam sob a orientação de profissionais, em diversos campos de prática, que fornecem uma excelente oportunidade de aprendizado, dada a diversidade e a complexidade do atendimento assistencial prestado nas unidades da Fhemig.

Os Programas de Residência Médica (PRM´s) em Psiquiatria da Fhemig têm importância fundamental para a atenção à Saúde Mental em Minas Gerais. “Formamos especialistas capazes de atuar como gestores, professores universitários, preceptores de PRM´s e psiquiatras clínicos em todos os pontos de atenção da Rede de Atenção Psicossociais (RAPS) e dos serviços de saúde suplementar”, garante o médico psiquiatra e coordenador de Coreme no Instituto Raul Soares (IRS), Vinicius Sousa Pietra Pedroso.

Tradição e pioneirismo

O Programa de Residência Médica em Psiquiatria do Instituto Raul Soares foi fundado em março de 1968. É o programa mais antigo da Fhemig e a residência em psiquiatria mais longeva em funcionamento ininterrupto no país. Ao longo dos últimos 52 anos, já graduou mais de 400 médicos, consolidando uma tradição de formação do psiquiatra clínico pautada na excelência técnica e humanística, na vanguarda da pluralidade discursiva e na defesa dos princípios do SUS e da construção de uma rede pública integral de assistência em saúde mental.

À ocasião da celebração de seu cinquentenário, o Programa de Residência Médica da unidade lançou um livro com o registro de sua história e de sua identidade de formação de psiquiatras capazes de transcender e de pensar a psiquiatria (A formação do psiquiatra – 50 anos de ensino e transmissão em psiquiatria e suas conexões, 2018. Editora Topológica). Além disso, o IRS abriga dois programas de R4, com foco na subespecialização em Psiquiatria Forense e em Psicoterapia. O PRM em Psiquiatria do IRS conta com oito vagas anuais. Os PRM´s em Psiquiatria Forense e em Psicoterapia contam, cada um, com duas vagas anuais.

Vinicius Pedroso destaca a importância da residência no contexto assistencial do IRS. “O PRM em Psiquiatria responde por mais da metade da assistência aos leitos de internação, pela totalidade da assistência no ambulatório (juntamente ao PRM em Psicoterapia) e está completamente integrado ao atendimento no setor de urgência da unidade, encontrando-se envolvido em todas as atividades desenvolvidas. Além disso, o PRM em Psiquiatria Forense é responsável pela totalidade dos atendimentos periciais realizados no IRS”, explica o coordenador.

Residente do terceiro ano no Instituto Raul Soares, Elisa Ferreira Vidal, destaca a pluralidade de possibilidades disponíveis ao psiquiatra em formação no PRM da unidade. “Como hospital de ensino, o IRS é referência para tratamento de pacientes de várias localidades de Minas Gerais - muitos com transtornos psiquiátricos de difícil controle. Isso possibilita ao residente uma rica aprendizagem prática, tanto em atendimento no setor de urgência quanto no acompanhamento em internação nas enfermarias. Essas atividades são realizadas de forma integrada com os municípios de origem de cada paciente. As atividades ambulatoriais também são outra experiência de importância fundamental, em que podemos nos dedicar a pacientes com demandas de natureza e complexidades diversas e acompanhamos a evolução clínica de cada um por um período maior”, relata.

Para a residente, todas essas possibilidades de atuação são fundamentais na formação. “Não só pelas singularidades dos pacientes aqui assistidos, mas também pelo rico compartilhamento de conhecimentos com os preceptores, que nos acompanham ao longo de três anos. O contato com psiquiatras de diversas ênfases clínicas possibilita que nossa formação seja abrangente, plural e orientada pelo equilíbrio entre a valorização dos aspectos subjetivos e existenciais dos pacientes e a necessidade dos preceitos técnicos da clínica psiquiátrica”, finaliza.

Infância e Adolescência

A residência médica em Psiquiatria oferecida pelo Centro Psíquico da Adolescência e Infância (Cepai) existe desde 1987 e foi pioneira em seu segmento. Em 1993, foi a primeira residência em Psiquiatria da Infância e Adolescência a ser credenciada e reconhecida oficialmente pelo Ministério da Educação (MEC) no Brasil. A unidade forma seis profissionais por ano e tem um dos PRM´s mais completos e respeitados do país.

O médico psiquiatra e coordenador de Coreme no Cepai, Rafael Ribeiro Santos, afirma que, tendo em vista as especificidades da Psiquiatria da Infância e Adolescência (PIA), torna-se essencial a formação de profissionais capacitados para um cuidado humanizado e abrangente em saúde mental de crianças e adolescentes - um público, por vezes, mais reativo e vulnerável e com apresentações psicopatológicas bem diversas do adulto.

“Transtornos mentais na infância e adolescência trazem sobrecarga relevante e dano expressivo ao paciente em momentos de desenvolvimento emocional, afetando a formação de sua identidade, qualidade de vida, interação familiar e aprendizagem escolar. O Cepai proporciona formação em modalidades de internação, permanência-dia e ambulatório, oferecendo assistência e formando profissionais qualificados, de forma simultânea. Logo, é de suma importância para a formação dos futuros psiquiatras, que seguirão cuidando das crianças e adolescentes com transtornos mentais com primor técnico e humano após sua formatura”, pondera Rafael.

Completando 40 anos de existência em 2020, o Cepai atua como serviço secundário e terciário de referência para casos graves e complexos em Minas Gerais, além de estar integrado à Rede de Atenção Psicossocial de Belo Horizonte, sendo credenciado como Cersami Centro-Sul, e responsável por atendimento de urgências e casos em crise de três regionais da capital. “A Residência Médica em PIA do CEPAI / Cersami Centro-Sul é parte indissociável de sua identidade, sendo responsável por parcela expressiva da assistência médica do serviço”, acrescenta o coordenador.

Formação qualificada

Desde 1991, o Programa de Residência Médica do Centro Hospitalar Psiquiátrico de Barbacena (CHPB) já formou 93 psiquiatras, que atuam nas mais diversas áreas e, inclusive, compõem o corpo clínico e de preceptores da unidade. São ofertadas quatro vagas por ano para o programa, que tem duração de três anos. Atualmente, o CHPB conta com 12 residentes em formação. O programa da unidade tem como missão formar profissionais de psiquiatria, promovendo os conhecimentos fundamentais, utilizando como ferramenta otimizada a prática e o dia a dia, respeitando os preceitos éticos, para atuarem no âmbito do SUS, de forma a fortalecer a RAPS.

Para o coordenador do Programa de Residência Médica em Psiquiatria do CHPB, Lucas Freitas Magalhães, além do desenvolvimento das atividades de ensino, de pesquisa e da produção do conhecimento, a residência desempenha papel importante também na assistência aos usuários do serviço de saúde mental. “No campo da prática, os residentes atuam, de forma supervisionada, na Unidade de Internação de Agudos, que está capacitada com de 30 leitos, e recebe pacientes encaminhados pelo Centro de Atenção Psicossocial (CAPS); e também na assistência ambulatorial, cuja média é de 800 pacientes atendidos por mês. Realizamos também Interconsultas em pacientes com diversas condições, entre elas, tentativa de autoextermínio, com quadro psiquiátrico associado a condições clinicas, e pacientes que estão em cuidados paliativos e necessitam de atendimento psiquiátrico”, explica.

Residente do segundo ano, Tiago Rocha Dumont, ressalta os privilégios e os desafios de atuar em uma unidade com tamanha relevância histórica como o CHPB. “O trabalho é intenso, mas sempre recompensador. Soma-se a isso a boa relação preceptor-aluno, com discussões ricas e completas. Conciliar a carga horária de 60 horas semanais, o cuidado da família e ainda manter a própria saúde (inclusive mental) exige disciplina extrema. O panorama geral de descaso com o portador de sofrimento mental e com os serviços que acolhem esses pacientes demanda uma mobilização constante pelo direito à Saúde Mental. Apesar disso, sigo na minha caminhada, por cada vez saber mais e sendo recompensado pelo muito obrigado de pacientes negligenciados por tantos outros”, pontua.

Neste momento de pandemia, a saúde mental da população é motivo de atenção não só de especialistas na área, mas de toda sociedade. Para o coordenador da residência psiquiátrica no CHPB, mais do que nunca se faz necessário destacar a importância da assistência qualificada e do acompanhamento contínuo. “A angústia gerada pelo aumento dos casos de covid-19 junto à mudança brusca na rotina provocada pelo isolamento social podem levar ao desenvolvimento ou agravamento de sintomas de algum transtorno mental. Nossos residentes estão atuando de maneira efetiva em nosso ambulatório, de forma a garantir a continuidade dos tratamentos já iniciados e evitar o agravo dos casos acompanhados. Nosso objetivo é trabalhar de forma a contribuir não só durante a pandemia, mas também no pós-pandemia, quando iremos nos deparar com novos casos que necessitarão de ajuda profissional. Devemos buscar a união entre o aprendizado de nossos residentes e a necessidade da população, ofertando atendimento de qualidade e de forma integral”, conclui Lucas.


Por Fernanda Moreira Pinto