28/05/2021

Fhemig é referência no atendimento à gestação de alto risco

Dia Nacional de Redução da Mortalidade Materna, celebrado hoje (28/05), alerta que a maioria dos óbitos é evitável


A Fundação Hospitalar do Estado de Minas Gerais (Fhemig) é referência no atendimento às gestações de alto risco e desempenha um importante papel nas ações de combate à mortalidade infantil e materna. A Maternidade Odete Valadares (MOV) e o Hospital Júlia Kubitschek (HJK), em Belo Horizonte, o Hospital Regional Antônio Dias (HRAD), em Patos de Minas, e o Hospital Regional João Penido (HRJP), em Juiz de Fora, oferecem atendimento pré-natal e para casos de alto risco, além de CTI adulto - com protocolos específicos para gestante, parturiente e puérpera.


As unidades de atendimento contam com equipes altamente capacitadas e comissões de prevenção da mortalidade, além de serem pólos formadores de médicos residentes em ginecologia e obstetrícia, e de pesquisadores. Essas características, assim como o atendimento prestado, tornaram a instituição também referência nacional no combate à mortalidade materna e infantil.

As maternidades da Fhemig estão inseridas nas informações citadas pelo Plano Estadual de Saúde (PES) 2020. A consequência da efetividade das ações é demonstrada no cumprimento das metas estabelecidas. Ou seja, o Estado tem conseguido manter seus índices em valores iguais ou inferiores a 70%. Nos últimos 5 anos, a média tem oscilado em torno de 35 óbitos a cada 100 mil nascidos vivos em Minas Gerais, parâmetro estabelecido pelo Ministério da Saúde como meta nacional de redução da mortalidade materna até o final de 2030.

Entre as razões apontadas no PES, estão indicativos de precárias condições socioeconômicas, baixo grau de informação e escolaridade, dinâmicas familiares e, sobretudo, dificuldades de acesso a serviços de boa qualidade. Segundo o plano, a maioria das causas de mortalidade materna (66,78%) é evitável. 

Dados do Ministério da Saúde apontam que entre os óbitos maternos ocorridos no Brasil - de 1996 a 2018, as causas diretas que se destacaram foram hipertensão (8.186 óbitos), hemorragia (5.160 óbitos), infecção puerperal (2.624 óbitos) e aborto (1.896 óbitos). Já entre as causas indiretas, as mais recorrentes estão relacionadas a doenças do aparelho circulatório (2.848 óbitos), doenças do aparelho respiratório (1.748 óbitos), AIDS (1.108 óbitos) e doenças infecciosas e parasitárias maternas (839 óbitos).

É considerado óbito materno a morte de uma mulher durante a gestação ou até 42 dias após o parto. A morte por causa materna é um grande problema de saúde pública no Brasil, que atinge desigualmente regiões brasileiras e classes sociais, com maior prevalência entre mulheres com menor acesso aos serviços de saúde.

Gestação e covid-19

Em relação aos óbitos maternos pelo novo coronavírus, de acordo com dados mais recentes divulgados pelo Observatório Obstétrico Brasileiro Covid-19 (OOBR Covid-19), somente em 2021 já foram registradas 642 mortes de gestantes pela doença, número que ultrapassa o total de 2020, quando o país registrou 457 óbitos entre grávidas e mães no pós-parto. O aumento, de 145,4 % na comparação das médias semanais, se deve a várias razões, como a falta de uma política de prevenção à gestante, maior infectividade das novas variantes, e o fato das gestantes não terem sido consideradas grupo de fator de risco no início da pandemia.

A maternidade do HJK é, desde março de 2020, referência no atendimento às gestantes, parturientes e puérperas com suspeita ou diagnóstico positivo. O setor passou por diversas mudanças, físicas e logísticas, para oferecer uma estrutura ideal e segura para receber esse grupo. “Temos fluxos separados, tanto para pacientes assintomáticas, quanto para aquelas com qualquer sintoma gripal. O objetivo é garantir a proteção de todos”, explica o ginecologista e obstetra Gabriel Campos, que também faz parte da equipe de medicina fetal da unidade.

De acordo com o médico, as internações de gestantes com covid-19 no hospital têm acompanhado as ondas de aumento de casos em Belo Horizonte. “Quando há picos de transmissão, conseguimos observar o mesmo movimento no HJK. Atualmente, existe um aumento dos casos graves”, alerta. Desde o início do ano, foram realizados 239 atendimentos de pacientes com casos suspeitos ou confirmados de covid-19 na maternidade, e registrado um óbito, no mês passado. Em 2020, o hospital atendeu 316 casos suspeitos ou confirmados.

Profissionais da unidade têm se dedicado a observar e conduzir pesquisas para investigar a evolução da covid-19 e suas consequências em gestantes e puérperas. Segundo Campos, há vários projetos de estudos na maternidade sobre os tratamentos realizados e suas respectivas eficácias. “Este trabalho irá gerar muitos frutos, não só para o Júlia Kubitschek, mas para a Fhemig como um todo. E também ajudará muitas pacientes”, ressalta o médico.

Condições de agravamento do quadro

O ginecologista e obstetra do HJK Gabriel Campos cita as alterações próprias da gravidez, entre elas o ritmo da respiração, a concentração sanguínea e até mesmo a queda da imunidade, como fatores influenciadores para a piora do quadro de covid-19. “Pela nossa experiência, quanto mais avançada a gestação, maiores as chances da doença se agravar. Mas ainda há muitos estudos sendo realizados sobre isso”, pondera Campos. Pela restrição respiratória, a gestante com covid-19 pode apresentar alguma dificuldade para ter um parto normal. Porém, desde que a paciente apresente condição para tal, não existe contraindicação.

De acordo com Campos, em quadros moderados a graves de covid-19, pode-se desenvolver uma síndrome parecida com a pré-eclâmpsia – complicação caracterizada por pressão arterial elevada – condição que aumenta as chances de um parto prematuro. “A realização de cesáreas de urgência, mesmo que necessárias, pode agravar ainda mais o quadro”, ressalta o médico, que também destaca o risco de hemorragia.

Caso apresente sintomas gripais, a grávida precisa ser avaliada, mesmo que de forma remota. De acordo com Gabriel Campos, o pico da doença, nos casos em que ela se agrava, acontece entre o 10º e o 14º dia. “A paciente gestante já possui uma falta de ar natural, pela compressão feita pelo bebê. No entanto, se esse padrão é alterado, deve receber uma atenção especial”, finaliza o médico.

Determinância das condições socioeconômicas

Para a médica ginecologista e obstetra do serviço de Alto Risco da Maternidade Odete Valadares e coordenadora da comissão de prevenção de mortalidade materna e perinatal, Luciana Carvalho Martins, a redução das taxas de óbitos por complicações relacionadas à gestação depende de investimentos não só em saúde, mas também em educação, saneamento e até segurança. “Mais de 90% dos casos acontecem nos países em desenvolvimento. Então, pobreza, distância, baixo nível de informação e serviços inadequados contribuem para esses números”, diz.

A médica endossa que as ocorrências de mortalidade materna ainda estão relacionadas à não realização adequada de pré-natal e à vulnerabilidade social. “Observamos, geralmente, três momentos de demora: primeiro, no reconhecimento do problema de saúde, tanto pela paciente quanto pela família, em seguida, na chegada ao serviço de saúde e, por fim, no diagnóstico e tratamento”, explica.

Referência estadual em gestação de alto risco, a MOV possui serviço de pré-natal que oferece 60 vagas mensais à central de marcação da Prefeitura de Belo Horizonte. “As pacientes contam com uma assistência de qualidade, acompanhamento frequente, acesso a especialidades como cardiologia e endocrinologia, além de exames laboratoriais e de ultrassom, que são fundamentais para atenção adequada. Recebem, ainda, orientações sobre sinais e sintomas de alerta”, destaca Luciana.

“A classificação de risco na entrada do serviço de urgência reconhece as pacientes com condições ameaçadoras à vida e que precisam ser atendidas prioritariamente. Contamos com uma equipe atualizada no diagnóstico e tratamento, além de termos uma unidade de terapia intensiva especializada, onde os casos são discutidos diariamente com equipes de alto risco obstétrico não só da MOV, mas de todo o estado”, conclui.

A médica da MOV ressalta que, nos países em desenvolvimento, incluindo o Brasil, a principal causa de mortalidade materna é a hipertensão, seguida por hemorragias e doenças cardiovasculares. “São patologias que podem ser controladas antes mesmo de se programar a gestação e também durante todo pré-natal. Elas ainda matam muito por falta de planejamento familiar para que a gravidez aconteça em momento de controle ideal da doença”, afirma.

Por Anni Sieglitz, Fernanda Moreira Pinto e Michèlle Guirlanda