14/02/2022

Solidariedade maior que a dor

Hospital Regional de Barbacena realiza captação de múltiplos órgãos e contribui para diminuir lista de espera em meio à queda do número de doações e transplantes devido à ômicron

“Com a variante ômicron, o número de transplantes realizados e de órgãos captados em Minas Gerais caiu ainda mais. Em janeiro deste ano, foram nove doadores”. A constatação do diretor do MG Transplantes, Omar Lopes Cançado, revela uma queda de mais de 50% no número de doadores, comparado a dezembro do ano passado, quando foram registrados 20 doadores.

A situação é crítica, pois o MG Transplantes já se encontrava, desde 2020, num contexto de redução superior a 30% da quantidade de transplantes realizados e de quase 50% das doações, em razão da pandemia de covid-19.

Grandiosidade

Diante deste cenário, a captação de múltiplos órgãos (coração, fígado, rins e córneas), vindos de Barbacena, no dia 7 deste mês, pelo Hospital Regional de Barbacena Dr. José Américo (HRB-JA), da Fundação Hospitalar do Estado de Minas Gerais (Fhemig), contribui para a manutenção da vida daqueles que aguardam na fila de espera do MG Transplantes. O último levantamento, de 2 de fevereiro, aponta que há 5.634 pessoas nesta fila.

Para entender a circunstância em que ocorre a decisão de doar, é preciso ter claro que os familiares do possível doador se veem diante da necessidade de deixar em segundo plano a dor da perda para agir baseados na solidariedade e, assim, contribuir para a manutenção da vida de pessoas que nunca viram e com as quais jamais terão contato. Daí a grandiosidade da decisão.

O enfermeiro intensivista e presidente da Comissão Intra-Hospitalar de Doação de Órgãos e Tecidos para Transplantes (CIHDOTT) do HRB-JA, Márcio Antonio Resende, participou da abordagem familiar da jovem doadora. De acordo com ele, no primeiro momento houve uma resistência da mãe diante do diagnóstico.

Acolher e acompanhar

Os familiares foram acolhidos e acompanhados por uma equipe multiprofissional e pela CIHDOTT, da unidade de urgência e emergência do HRB-JA, e retornaram com a resposta afirmativa para a primeira doação de 2022 realizada no hospital, conta Márcio.

Desde a abertura de sua unidade de urgência e emergência, em 2014, o HRB-JA é referência para trauma e acidente vascular encefálico (AVE). No ano passado, foram realizadas dez abordagens familiares, das quais seis resultaram em doação.

A partir da suspeita de morte encefálica (ME), tem início o protocolo para determinar a ME e notificar a organização de procura de órgãos (OPO) de Juiz de Fora, referência para a região em que o HRB-JA está localizado. Após a confirmação do diagnóstico e da autorização familiar, inicia-se a logística para a captação e o transporte dos órgãos até os centros transplantadores.

Obstáculos

De acordo com Márcio Antonio Resende, entre os motivos para a recusa da doação estão a dificuldade de aceitação da morte do paciente, o desconhecimento sobre a decisão do falecido, o tempo para liberação do corpo, a falsa ideia de que a integridade corporal do parente morto será comprometida e a falta de consenso familiar.

A expectativa do diretor do MG Transplantes, Omar Lopes Cançado, é de que as doações e os transplantes de órgãos e tecidos retomem, pelo menos, os patamares observados antes do início da pandemia da covid-19.

Por Alexandra Marques